terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Psicogêneses da Língua Escrita.

Texto retirado do curso de Formação Continuada - Pró-Letramento, material do tutor.
Façam bom proveito do material.


Antes



Psicogênese da língua escrita: o que é ? como intervir em cada uma das hipóteses?
Marília Coutinho
Preparação para a escrita, ditado de palavras conhecidas, cópias e só mais tarde as crianças eram solicitadas a produzir escrita de forma autônoma.
As pessoas aprendem fazendo, errando, tentando até acertar.
A concepção tradicional priorizava o domínio da técnica, não o conteúdo.
Escritas espontâneas não eram permitidas, porque as crianças escreviam para acertar, sem nenhuma intenção de refletir sobre a escrita.
Ferreiro e Teberosky (1979) apontam o problema da alfabetização: preocupação com o melhor método

Os métodos tomam a aprendizagem da escrita alfabética como uma questão mecânica, a aquisição de uma técnica. A escrita era considerada como uma transcrição gráfica da linguagem oral (codificação) e a leitura como uma associação de respostas sonoras a estímulos gráficos, uma transformação do escrito em som (decodificação). Essas práticas pressupunham uma relação direta com o oral.: as progressões clássicas: vogais, sílabas, etc.
A escrita

Em 70, as autoras, através de pesquisas, perceberam que a escrita é uma maneira particular de representar a linguagem e que a criança já possuía considerável conhecimento sobre sua língua materna.

Para aprender a escrever, é fundamental que o aluno tenha muitas oportunidades de fazê-lo, mesmo antes de saber grafar corretamente as palavras: quanto mais fizer isso, mais aprenderá sobre o funcionamento da escrita. Esse gesto permite que a criança confronte hipóteses sobre a escrita e pense em como ela se organiza, o que representa, para que serve.
O tradicional
considera que os alunos chegam à escola todos iguais e completamente ignorantes no que se refere à escrita e que bastaria ensinar quais letras correspondem a quais segmentos sonoros para que compreendessem o modo de funcionamento do sistema alfabético. (fixar informações transmitidas por um adulto)
Questões básicas
as autoras observaram que o aprendiz, no processo de apropriação da escrita, formula respostas para duas questões básicas:
o que a escrita representa? (o significado das palavras/ o significante?)
como a escrita cria representações? ( utilizando símbolos quaisquer ou convencionado? Empregando símbolos para representar sons das palavras? Ao nível da sílaba ou do fonema?

As pesquisas de Ferreiro evidenciaram
1) as crianças formulam hipóteses e atribuem símbolos distintos dos que lhes são transmitidos pelos adultos.
2) as hipóteses seguem uma ordem; a princípio não estabelece uma relação entre grafia e som (hipótese pré-silábica), em seguida, relacionam a grafia aos sons (hipótese silábica), finalmente compreendem que as letras representam unidades menores que a sílaba. (hipótese alfabética)
Um caminho

Esse processo se dá com crianças de todos os níveis sociais e o ritmo em que ocorre varia dependendo do contato que o aprendiz tem com a escrita
Nível pré-silábico
Escrever = desenhar
Escrevem com letras, números, rabiscos
Escrita e a representação do objeto e não o som do nome do objeto. Boi, muitas letras(realismo nominal)
Principal desafio
Ajudar os alunos a perceber que a escrita representa os sons da fala. Habilidades fonológicas
A exploração oral e, sobretudo, escrita de poemas , trava-línguas, parlendas e outros textos que permitam a exploração de sons iniciais (aliteração) e finais (rimas) são importantes.
O trabalho com palavras estáveis, nomes dos alunos, pode auxiliar na percepção de partes iguais.
Nível silábico
Utilizam uma letra para cada sílaba
Aspecto quantitativo- uma qualquer letra para cada sílaba
Aspecto qualitativo- a letra da sílaba
Imaginam um mínimo de letras: três
Principal desafio
Ajudar a perceber que a sílaba não é a menor unidade de uma palavra e que ela é constituída por unidades menores (fonemas) Mostrar que as palavras possuem números diferentes de sílabas e que as sílabas possuem números diferentes de letras.
Nível silábico
Henrique – 3 sílabas, 8 letras Aída- 3 sílabas- 4 letras
Trabalho com escrita espontânea, ditado e autoditado, propondo que os alunos interpretem seus escritos.
Com os nomes, o professor pode pedir escrita de outras palavras que possuam os pedacinhos que aparecem nos nomes dos alunos da sala. Cruzadinhas
Aqui, o aluno já compreende o que a escrita representa,falta refletir sobre o como
Nível silábico alfabético
Pelelec
Cgoro
Gato
Sapo
Nem sempre escreve marcando as unidades menores que a sílaba.
Nível alfabético
O aluno compreende como a escrita representa o som, ou seja, que as letras representam unidades menores que a sílaba.
Boi,formiga, cavalo, gato, sapo, banana, perereca, gia, ran, cachorro.
Já estabeleceu a relação falta a forma convencional.
Um trabalho de reflexão e não de memorização, levar os alunos a perceber que a escrita representa a fala, mas não é uma transcrição direta.
Momento adequado para começar com a letra cursiva.
Oto e Horácio- reflexões sobre
letras que assumem sons diferentes
Análise da Escrita de Sergio Murilo
Sérgio Murilo Júnior (6 anos) –
Realização de um diagnóstico: lista de animais
Período: abril a dezembro

UNIOF HRSPPDIO
borboleta galinha

ROUN FCMIOR
minhoca foca

PNIOR HUNIOUSSI leão cão

COELHO PEIXE
coelho peixe
Quadro 1 - Escrita 1 : Lista de Animais
Análise do Quadro 1
Sérgio Murilo Júnior - hipótese pré-silábica.
Já sabia:
que a escrita tinha uma direção,
que seqüências de letras são usadas para escrever,
que coisas diferentes devem ter escritas diferentes e
que é preciso um número mínimo de grafias para que algo esteja escrito (neste caso quatro letras).

O menino que já escrevia seu nome completo, utilizou, com freqüência, partes de seu nome para compor as palavras da lista. Exemplo, a escrita da palavra leão "PNIOR". E escreveu, corretamente, as palavras cujas grafias já
conhecia de memória como ocorre na escrita de peixe e coelho.

Quadro 2
S K L A
bri ga dei ro

H S I L A
re fri ge ran te

I S E
ri so le

Análise do quadro 2
Sérgio Murilo encontra-se na hipótese silábica com algum valor sonoro e já compreende
que cada grafia representa uma emissão sonora, embora pense que qualquer letra serve para representar qualquer sílaba, como na escrita da palavra coxinha e
percebe o valor sonoro contido em determinada sílaba, como podemos observar nas escritas de risole, torta e pastel.
Quadro 3 - Escrita 3: Lista da Festa Junina
BA D I A
ban dei ri nha

BA R A A
ba rra qui nha

CA X CA
can ji ca

TU Q RA-
fo guei ra

Análise do Quadro 3
Percebe-se um avanço na escrita de Sérgio Murilo:
ora usa letras para representar as sílabas e
ora as usa para representar os fonemas, ou seja, apresenta uma escrita silábica-alfabética.
Quadro 4.
Sérgio Murilo- hipótese alfabética:
sabe que cada um dos caracteres da escrita corresponde a um valor sonoro menor que a sílaba
VETILADO APOTADO
ventilador apontador
CADENO ALONO
caderno aluno
LIVO COLA XIJI
livro cola giz

Quadro 4 - Escrita 4: Lista de Objetos
da Sala de Aula

No Quadro 5, observar-se a escrita de uma música cujo texto é de domínio oral do aluno.

BOBOLETIIA TANA COZI IA
Borboletinha tá na cozinha

FAZEDO XOCOLATE PARA AMADIIA
fazendo chocolate para a madrinha

POTI POTI PERNADEPAU
poti poti perna de pau

OLIO DE VIDO E NARI I
olho de vidro e nariz

DE PICA PAU
de pica pau
Quadro 5 - Escrita 5: Música Borboletinha



No Quadro 6, uma lista de Natal, podemos observar como Sérgio Murilo vem se aperfeiçoando no uso da pauta sonora:
SINO NATAU
Sino natau

PREZENTE ARVORE
Presente arvore

Quadro 6 - Escrita 6: Lista de Natal

Conclusões
As atividades realizadas no nível da palavra (decomposição de palavras em sílabas e letras, comparação de palavras quanto à presença de sílabas e letras iguais ) voltadas para a habilidade fonológica são fundamentais.
Textos como poemas, parlendas, cantigas possuem rimas e podem ser exploradas e devem ser aproveitadas na leitura e escrita.

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